«Nunca cantei o desamor, o vazio, como é o caso de ‘Ainda Mais Triste’ [de Manuela de Freitas a partir de “Longa Jornada para a Noite” de Eugene O’Neill]. É muito difícil cantar o vazio. Uma mulher que tem tudo para amar e não é capaz de amar», afirmou.

O álbum, o quarto da carreira da fadista, é apresentado como um livro, com prefácio (do editor Manuel Valente), introdução (do musicólogo Rui Vieira Nery) e um poema de abertura de Pedro Mexia, «A Balada do Café Triste» que é «uma síntese do disco», explicou Aldina Duarte.

No palco da Culturgest, acompanhada por José Manuel Neto na guitarra portuguesa e Carlos Manuel Proença, na viola, Aldina Duarte, distinguida há dois anos com o Prémio Amália Melhor Poeta, irá interpretar fados tradicionais como o Cigano, Pagem, Pedro Rodrigues, Cravo, Amora, Manuel Maria Marques, Menor do Porto, Vento, Esmeraldinha, Alberto, Franklin Godinho e João.

Os letristas escolhidos «são amigos», o que para a fadista facilita a interpretação pelo conhecimento que têm da própria cantora. Aldina defende que se deve cantar letras e não tanto poemas, pois a letra «adapta-se mais facilmente à música que a ajuda também e é a linguagem de todos os dias».

Manuela de Freitas, Maria do Rosário Pedreira, José Mário Branco e José Luís Gordo são os poetas que desafiou a escrever «pensando numa obra literária», além de uma letra de sua autoria, «Que amor é este?», a partir do romance «O Eterno Marido», do russo Fiódor Dostoiévski que foi o primeiro escritor estrangeiro que leu e como ninguém escreveu a partir dele, sentiu a “urgência de o fazer".

À Lusa Aldina Duarte afirmou: «Cuido dele [do fado] diariamente, quer cantando na casa de fados [no Senhor Vinho há 16 anos], quer ouvindo discos, é um amor tão a sério que acumula com a paixão que se reacende».

Para a fadista o universo de 140 fados tradicionais é «um jogo de espelhos que se pode levar até ao infinito».

SAPO/Lusa