Deles, podemos esperar um folk melodicamente tradicional, límpido, abrilhantado pelo entrosamento das vozes, tal como podemos esperarque se passeiem pelo outro extremo, numa vertente freak folk marcada pelo psicadelismo instrumental, incursões galáticas e muito improviso ruidoso.
Melhor ainda, deles sabemos que podemos contar tudo isto, em simultâneo. Ouvi-los torna-se numa experiência de contrastes, de convencionalismos deturpados à força de apontamentos bizarros e, ao vivo, tudo se adensa, em momentos de euforia, descontracção, transe e alguma compenetração meditativa.
Assim se poderá resumir a passagem deste trio norte-americano pelo Hard Club, no fim da tarde de domingo passado.
Gravelly Mountains of the Moon, do penúltimo “Set'em Wild Set'em Free” (2009), emergiu de uma introdução de detalhes, sonoramente orgânica, com samples de vozes e flautas, à qual se seguiu a delicadeza de Crickets, repescada a “Love Is Simple” (2007). O fim da canção foi o mote para que o baixista Miles Seaton ironizasse sobre a vaidade e assegurasse que, apesar de gostar muito de ser fotografado, preferisse que o público se aproximasse e que os fotógrafos não ocupassem tanto espaço. O público acedeu, sem saber o que o esperava.
Island, do mais recente “ST II: The Cosmic Birth And Journey Of Shinju TNT” (2011), foi o pretexto para uma lição de dança, orientada por Seth Olinsky, guitarrista, para a qual tivemos de “viajar” até ao estado emocional adequado: pediu-nos que fechássemos os olhos e nos imaginássemos numa praia paradisíaca, no papel das “pessoas mais bonitas e ricas da cidade”.
A segunda explosão de loucura teve lugar já Another Sky ia quase no fim, com o baixista e o guitarrista a saltarem fora do palco e a misturarem-se coma audiência, sendo que, enquanto um enrolava parte do público em fita-cola, o outro dividia o microfone com os corajosos e os desprevenidos. Com Everyone is Guilty e Say What You Want encaminharam a atuação para o final, que aconteceu com Silly Bears, épica faixa de abertura do último álbum.
Para o encore que correu o risco de não acontecer, devido à falta de insistência do público, Dana Janssen largou a bateria e juntou-se à frente com Seaton e Olinsky para repartirem Love and Space (“Meek Warrior”, 2006) a três vozes enquanto que, do outro lado do palco, se murmurou infinitamente o título da canção até ao fim.
Antes dos Akron/Family subirem ao palco coube a The Partisan Seed, nome pelo qual se designa o projecto a solo de Filipe Miranda (Kafka), dar as boas vindas a quem foi chegando ao Hard Club. Folk soturno, suportado pela guitarra e por loops, fez-se acompanhar de uma projecção de paisagens difusas e chuvosas.
Os Akron/Family estão de regresso a casa, para curar as gripes apanhadas na Catalunha, mas prometeram voltar para o ano que vem. Que bom! Só nos resta esperar que, da próxima vez, encontrem mais gente à espera...
Texto: Ariana Ferreira
Fotografias: José Pinto
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