Adriana Calcanhotto subiu ao palco, trazendo na bagagem o recente "Micróbio do Samba", um trabalho inspirado no Rio de Janeiro, onde vive actualmente, no Rio Grande do Sul, onde nasceu, eem Portugal, um país que - diz -a apaixona.

De facto, parece existir uma ligação muito forte entre Adriana Calcanhotto e o nosso país, a julgar pelarobusta e entusiastareacção do público portuense.

Com um cenário bastante simples, que obrigava o público a focar a atenção, única e exclusivamente, nos músicos, Adriana Calcanhottoestudou bem a lição, para não deixar o público do Porto entorpecer, já que de uma segunda-feira à noite se tratava.

Por entre brincadeiras e formas de dançar muito particulares, Adriana Calcanhotto mostrava-se verdadeiramente feliz por estar a fazer aquilo que mais gosta e transmitia essa paixão para o público que, mesmo não sabendotodas as letras das músicas apresentadas, lá ia batendo o pé e abanando a cabeça, atento.

Vários instrumentosforam tocadosdurante a noite, uns mais conhecidos, outros nem tanto,sendo quealguns pareciam verdadeiras armas arremessadas do espaço. Todo o género de sonoridades era produzido, havendo samba tipicamente brasileiro, mas também músicas mais tristes, solitárias.

Sem nada para distrair a plateia, sem ecrãs nem luzes ofegantes, Adriana Calcanhotto procurou criar o seu próprio mundo ao vivo e a cores. Um secador de cabelo, como se fosse o objecto mais normal a ter em cima do palco, foi usado para espalhar folhas, criando um efeito artístico engraçado. Uma faca e um prato também serviram para fazer sons, que, curiosamente, encaixavam na perfeição. Tudo parecia estar pensado e preparado meticulosamente e nada saiu mal.

Temas e mais temas foram tocados, com especial atenção para os do seu maisrecente trabalho,havendo ainda tempo para um coro de vozes masculinas, protagonizado pelos músicos da banda.

Adriana Calcanhotto, tal como entrou, despediu-se de uma maneira muito subtil, sob um forte aplauso. E não demorou muito até voltar a encarar a plateia, que a recebeu de pé, sentida.

Vambora, provavelmente o tema mais esperado da noite, faria as delícias dos presentes, antes destes rumarem ao ser lar. Praticamente todos sabiam a letra e cantavam em uníssono, enquanto Adriana Calcanhotto se despedia, pela última vez, da cidade que a acolheu com um carinho especial.

Filipa Oliveira

José Aguiar