O tempo encarregou-se de os unir e de certificar-se que que Luís Varatojo, Sandra Baptista, Samuel Palitos e Mitó Mendes voltassem a compor melodias que ajudam a iluminar caminhos, mesmo com estes a caminhar na escuridão. Continuam a rasgar corações e preparam-se, agora, para regressar a Lisboa, já no próximo dia 3 de novembro, para um concerto no Centro Cultural Olga Cadaval, no âmbito do Misty Fest.

A propósito deste regresso à capital, o Palco Principal esteve à conversa com Mitó Mendes.

Palco Principal - A digressão de apresentação do mais recente álbum d’A Naifa começou em março deste ano, em Lisboa, e, ao longo dos meses que entretanto passaram, foram muitos os concertos e festivais onde o coletivo marcou presença. Como tem corrido, na vossa opinião, esta digressão?

Mitó Mendes – Está a correr muito bem. Fomos acolhidos de forma veementemente positiva nos palcos que já conhecíamos e surpreendidos pela participação do público em locais que ainda não tínhamos visitado. É de salientar que no verão tocámos por diversas vezes em festivais, um formato que não nos é habitual, e que resultou surpreendentemente bem.

P.P. - E como tem sido a vossa experiência em palco com os doismais recenteselementos - a Sandra e o Samuel?

M.M. - A Sandra e o Samuel já estão connosco hátrês anos e já passámos por uma digressão nacional, em 2010, todos juntos. Nesta digressão apenas confirmámos o quanto gostamos de trabalhar uns com os outros.

P.P. Em "Não se deitam comigo corações obedientes" sente-se uma misticidade muito grande perante o nome e figura do João Aguardela. Como foi, para vocês, preparar este disco e continuar com este projeto, após a sua morte?

M.M. - O trabalho de edição do disco não foi nada fácil. Demorámos mais tempo, hesitámos mais vezes, mas conseguimos. Continuar com o projecto é a melhor homenagem que se pode fazer ao João.

P.P. - Acham que se distanciaram, em "Não se deitam comigo corações obedientes",da sonoridade dos três discos que oantecederam [“Canções subterrâneas”, “3 Minutos antes da maré encher” e “Uma inocente inclinação para o mal"]?

M.M. - Não. Também não é necessariamente uma sonoridade igual, mas não é, de todo, distante dos demais. É um disco que resulta dos três primeiros, diferente, mas com a nossa identidade absolutamente intacta.

P.P. Reparo que, enquanto músicos, têm estado muito ativos contra o sistema político e económico que o país atravessa. Acham que os artistas têm um poder privilegiado? Uma voz maior para alertar os restantes cidadãos?

P.P. - Não o vejo como uma questão de poder e de alerta para com os restantes cidadãos, mas sinto que talvez tenha mais força para levar a opinião dos cidadãos a uma classe política e governativa completamente autista do povo que deveria governar. Os cidadãos não precisam de ser alertados, precisam de ser respeitados. Alerta já estamos todos.

P.P. De que modo esta crise pode influenciar futuramente a música nacional, na vossa opinião?

M.M. – Eu não colocaria a pergunta no "futuro". A crise já influenciou, há muito, o panorama cultural nacional, que é nada mais, nada menos, uma fonte de rendimento para o país. Mas a ignorância é tanta, principalmente por parte de quem gere, que a questão é colocada sempre ao contrário, como se a cultura desse prejuízo.

P.P. Ainda nem há um ano lançaram “Não se deitem comigo corações obedientes”. Um novo álbum demorará muito tempo a chegar?

M.M. - Esta procissão ainda vai no adro. Não temos planos para futuro disco ainda.

P.P. - Vocês estarão presentes no renovado Misty Fest, cujo cartaz tem nomes bastante variados. Dos artistas em cartaz, qual aquele(s) com que se identificam mais?

M.M. - Essa pergunta é muito difícil, pois o cartaz está mesmo muito bom. Talvez o nome mais consensual entre todos os membros da Naifa seja os Osso Vaidoso. Eu, pessoalmente, gosto do trabalho de todos os que estão no cartaz.

P.P. Quem é vosso seguidor, o que pode esperar (de único) do vosso concerto do Misty Fest?

M.M. - Talvez umas versões de músicas de outros artistas.... Mas, se querem mesmo saber, venham!

Ana Cláudia Silva