Ávido colecionador de banda desenhada na adolescência, Quentin Tarantino tornou-se um dos grandes críticos ao atual impacto do género no cinema, principalmente o dos super-heróis.

Mas o aclamado cineasta faz rasgados elogios a "Joker: Loucura a Dois", um enorme fracasso de bilheteira que dividiu tanto críticos como os espectadores com os seus números musicais e uma reviravolta surpreendente no final.

"Realmente gostei, a sério. Bastante. Tipo, tremendamente, e fui ver esperando ficar impressionado com a produção do filme”, revelou numa participação no "The Bret Easton Ellis Podcast", citado pela Variety.

“Mas pensei que seria um grande exercício intelectual que, no fim, não iria funcionar como filme, mas que apreciaria pelo que é. E sou niilista o suficiente para gostar de um filme que não funciona como filme ou que é uma grande confusão até certo ponto. E não o achei um exercício intelectual. Realmente envolveu-me. Gostei muito das cenas musicais. Fiquei realmente envolvido. Achei que, quanto mais banais fossem, melhores eram as músicas. Ouvi a letra de ‘For Once in My Life’ de uma forma como nunca me aconteceu antes", contou.

De facto, Tarantino diz que gostou muito mais da sequela do que do primeiro filme de 2019, que competiu nos Óscares com o seu "Era Uma Vez... em Hollywood", que achou ter "só um tom" até ao momento climático da entrevista do Joker de Joaquin Phoenix com o apresentador de talk-shows interpretado por Robert De Niro, que descreveu como “uma das melhores cenas feitas nos últimos 20 anos, deste século. Facilmente! O filme inteiro valeu a pena por isso.”

Se o primeiro "Joker" tinha uma dívida para com "Taxi Driver" (1976), Tarantino acha que a sequela está mais ligada a "Assassinos Natos" (1994), o filme de Oliver Stone com argumento da sua autoria, comparando Arthur Fleck e Lee Quinzel (Lady Gaga) com o casal de psicopatas formado por Mickey (Woody Harrelson) e Mallory (Juliette Lewis).

Tarantino fala ainda de um filme "muito divertido" que viu numa sala IMAX quase vazia, o que lhe permitiu rir-se de determinadas cenas sem incomodar outros espectadores.

Já vencedor de um Óscar por "Joker", Phoenix dá “uma das melhores interpretações neste filme que já vi na minha vida”, mas os maiores elogios vão para o trabalho do realizador e argumentista Todd Phillips.

“O Joker realizou o filme. Todo o conceito, até mesmo ele a gastar o dinheiro do estúdio – ele está a gastar como o Joker gastaria, certo?”, nota.

Para Tarantino, Phillips tinha reservado um chocante 'grande presente surpresa" aos 'geeks' das bandas desenhadas.

"Está a dizer-lhes a todos para se irem lixar. Aos espectadores. A Hollywood. Aos que têm ações da DC e da Warner Brothers [...] E o Todd Phillips é o Joker. 'Un film' de Joker [uma referência ao título original 'Joker: Folie à Deux']", defendeu.