O realizador Sandro Aguilar experimentou uma outra forma de fazer cinema em “Primeira Pessoa do Plural”, um filme sobre um microcosmos familiar, atravessado por uma perda, que se estreia hoje no Festival de Cinema de Roterdão, nos Países Baixos.
“Primeira Pessoa do Plural” é a terceira longa-metragem realizada por Sandro Aguilar e está na competição principal de um festival que já exibiu o cinema dele por diversas vezes e que chegou a apelidá-lo de “força da natureza”.
O novo filme é protagonizado por Albano Jerónimo e Isabel Abreu, nos papéis de um casal à beira de celebrar 20 anos de casamento, e também por Eduardo Aguilar, que interpreta o filho adolescente.
É um núcleo familiar em mágoa e em desequilíbrio e que tenta não ser engolido pela perda de uma filha, “o vórtice de uma tempestade”, como contou Sandro Aguilar em entrevista à agência Lusa.
“A pergunta a que eu estou a responder é como lutar contra esta força gravitacional que nos puxa para baixo e a resposta que fui tentando encontrar através do filme, a propósito de um casal neste microcosmo familiar é: Fugimos disto através da fantasia (…), através de invenções, de jogos, de farsas”.
Sandro Aguilar, 50 anos e há quase trinta a fazer cinema como produtor, realizador, montador, explicou que “Primeira Pessoa do Plural” representa ainda uma espécie de recomeço na forma de fazer cinema.
“Já estou há muitos anos a fazer cinema e embora tenha experimentado muitas coisas diferentes, com graus diferentes de experimentalismo, enquanto realizador achava que devia também experimentar outro género de coisas”, detalhou.
Explicou que quis deixar para trás “um certo negrume” de muita da sua cinematografia anterior e abordar outras formas de construir personagens, de trabalhar os diálogos e de arquitetar os planos.
Esse longo percurso no cinema, em diferentes patamares da criação de um filme, permite-lhe uma visão panorâmica do setor.
“Do ponto de vista prático, vamos fazendo os filmes com cada vez menos tempo de rodagem e de preparação e há um momento qualquer onde isso se vai começar a sentir. (…) Os financiamentos não sobem há muito tempo e os novos concursos que surgem da parte do ICA [Instituto do Cinema e do Audiovisual] são opções de baixo orçamento”, opinou.
Sandro Aguilar admite que não se pode queixar da sua própria experiência, que vai conseguindo filmar e produzir na O Som e a Fúria, que cofundou, mas tem a perceção de que o cinema português depende cada vez mais de compromissos, como por exemplo, de coproduções, para poder ter condições mínimas.
“Se perguntar aos realizadores e produtores, todos vão preferir [fazer] mais filmes com menos dinheiro, mas eu acho que isso está a retirar a dignidade do próprio trabalho”, disse.
O Festival de Cinema de Roterdão começou na quinta-feira e termina no dia 9 de fevereiro.
O filme de Sandro Aguilar tem novas exibições no festival nos dias 3, 5 e 6 de fevereiro.
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