
Normalmente, as novas versões em imagem real dos clássicos de animação da Disney são apostas seguras. Mas uma nova versão da mais antiga de todas, "Branca de Neve e os Sete Anões", envolveu-se em controvérsias, recebendo uma estreia anormalmente discreta em Hollywood no sábado.
O estúdio manteve as suas estrelas Rachel Zegler e Gal Gadot, conhecidas pela franqueza das declarações, longe dos jornalistas no evento de "Branca de Neve", sem entrevistas na passadeira vermelha - e evitou perguntas sobre as representações divisivas dos Sete Anões no filme.
A antestreia no sábado à tarde seguiu-se à europeia similarmente reduzida na quarta-feira num castelo remoto em Segóvia, Espanha, para onde foram convidados poucos meios de comunicação.

A negatividade começou em 2021, com a escolha de Rachel Zegler, que é latina, como Branca de Neve - uma personagem de um conto de fadas alemão que era famosa por ser "a mais bela de todas".
Isso foi previsivelmente criticado como "woke" por alguns fãs e comentaristas conservadores.
"Sim, sou branca como a neve. Não, não vou clarear a minha pele para o papel", escreveu a atriz norte-americana de ascendência colombiana e polaca, numa mensagem posteriormente apagada na rede social X (antigo Twitter).
Mas as críticas espalharam-se mais amplamente entre a base de fãs leais da Disney quando a atriz pareceu denegrir repetidamente "Branca de Neve e os Sete Anões", de 1937, a primeira longa-metragem de animação de Walt Disney.
Rachel Zegler descreveu o amado original como "esquisito" porque o interesse amoroso de Branca de Neve é "um tipo que literalmente a persegue".
Desta vez, "ela não será salva pelo príncipe e não estará a sonhar com o amor verdadeiro", referiu numa entrevista que foi criticada em fóruns da Disney por fãs que ansiavam exatamente por esses elementos tradicionais.

Rachel Zegler é excecionalmente franca para os padrões de Hollywood.
Ela queixou-se publicamente por não ter sido convidada para a cerimónia dos Óscares de 2022, apesar de ser a estrela do nomeado para Melhor Filme "West Side Story". Finalmente conseguiu um convite... e algumas mensagens de desaprovação nas redes sociais.
"Zegler não é necessariamente a estrela mais decorosa quando se trata dos media ou da internet", escreveu a jornalista da Slate Nadira Goffe numa coluna de 2023.
"Ela tem um comportamento que pode parecer charmosamente estranho para alguns, e um pouco superficial e irritante para outros."
Para agravar as dores de cabeça da Disney, Zegler assinou partilhas nas redes sociais com "Palestina Livre", enquanto Gal Gadot - que interpreta a Rainha Má - expressou apoio público a Israel, o seu país.
A Disney não respondeu ao pedido de reação da agência France-Presse (AFP).
História retrógrada

E depois há a questão dos Sete Anões, que foram visivelmente retirados do título do novo filme.
Peter Dinklage, talvez o ator mais famoso de Hollywood com nanismo, criticou a "hipocrisia" da Disney por fazer sequer um "Branca de Neve".
Numa entrevista de 2022 com o 'podcaster' Marc Maron, o ator celebrado por "A Guerra dos Tronos" questionou como a Disney poderia estar "orgulhosa de escolher uma atriz latina como Branca de Neve" e ainda assim achar que fazia sentido uma nova versão da "história retrógrada de sete anões a viver numa caverna".
A Disney rapidamente emitiu uma declaração prometendo adotar "uma abordagem diferente" que "evitaria reforçar estereótipos do filme de animação original".
No novo filme, os anões são criaturas mágicas caricaturais, parecidas com gnomos, criadas por efeitos visuais gerados por computador em vez de atores humanos.
Isso por si só provocou reações negativas. Alguns atores com nanismo culparam Dinklage.
"Não há muitos papéis para anões em Hollywood, portanto ele dizer isso cancelou esses papéis... prejudicou a comunidade de atores anões", disse o lutador profissional Dylan Mark Postl ao jornal britânico The Guardian.
Paixão

Juntando tudo, o mais recente filme em imagem real da Disney provou ser muito mais controverso das novas versões que arrecadaram fortumas nas bilheteiras como "O Rei Leão" e "A Bela e o Monstro".
A precisar de extensas refilmagens e afetado por atrasos provocados pela pandemia e as greves de Hollywood, "Branca de Neve" custou bem acima de 200 milhões de dólares para ser feito (mais de 183 milhões de euros), sem incluir o o marketing de acordo com a revista Forbes.
A Disney espera que toda a publicidade prove ser boa publicidade quando chegar aos cinemas esta semana. As últimas estimativas apontam que vá arrecadar entre 50 e 56 milhões de dólares no fim de semana de estreia na América do Norte, tendo pela frente um longo caminho para se tornar lucrativo.
"Interpreto os sentimentos das pessoas sobre este filme como uma paixão por ele", disse Rachel Zegler à revista Vogue México.
"Que honra fazer parte de algo pelo qual as pessoas se sentem tão apaixonadas.", destacou.
VEJA O TRAILER.
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