Uma viagem no tempo a 1969 leva
Will Smith a encontrar a versão jovem de
Tommy Lee Jones, seu parceiro de aventuras na saga
«Homens de Negro», e que se revela mais um triunfo de interpretação para
Josh Brolin. O ator americano, que se estreou no cinema a meados da década de 80 com um dos papéis protagonistas de
«Os Goonies», tem dado muito que falar na última década com películas para cineastas como
Michael Mann,
Gus van Sant,
Woody Allen, os irmãos
Coen e
Oliver Stone, para o qual recebeu todos os aplausos por encarnar
George W. Bush. Agora é na pele de outro texano, Tommy Lee Jones, que Brolin surpreende, e foi sobre esse desafio que começou a sua conversa com o SAPO.
Encarnar Tommy Lee Jones
O Tommy não me disse absolutamente nada sobre a minha interpretação. Zero. Ele viu o filme, alguém me disse que ele gostou, mas ele não me disse nada. Mas isso é típico do Tommy. Ele nunca diz nada, se ele dissesse não seria o Tommy. Mas o Tommy é muito diferente do Agente K, e por isso não ajudou muito ter trabalhado com ele no
«Este País Não é Para Velhos». As cadências do discurso são diferentes, é tudo muito diferente. No início ainda fui ver filmes do Tommy quando dele era mais novo, como «A Filha do Mineiro», mas isso acabou por também não ajudar. Por isso, a chave foi ver e estudar a fundo o primeiro filme, o
«MIB - Homens de Negro», ao qual eu reportava tudo o que fazia. Mesmo no set de rodagem estava sempre com o iPod a ouvir o filme e a falar comigo próprio.
Trabalhar com Will Smith
Dei-me muito bem com o Will Smith e nisse tive muita sorte, foi mesmo uma grande sorte, porque podia ter dado para os dois lados. E se desse não havia problema, eu já trabalhei com pessoas com quem não me dei tão bem como com o Will e isso só exige que trabalhemos um pouco mais, faz parte da profissão. Eu não preciso de gostar de uma pessoa para trabalhar com ela, aliás seria impossível, porque nós trabalhamos com tanta gente que até seria estranho se gostássemos de todos. Mas gosto mesmo muito do Will, talvez por ele ser tão diferente de mim e de termos passados tão diferentes. E talvez tenha sido também por isso que a relação dele com o Tommy funcionou, já que eles também são totalmente diferentes.
A tendência para papéis de risco
Eu tenho sempre a tendência de fazer papéis que podem ser destrutivos para a minha carreira, e sinto-me bem com isso. Tenho tido uma carreira muito boa, que dura há mesmo muito tempo. Sou uma espécie de ator operário, que não atrai grandes vedetismos. Estou numa altura em que tenho mais sucesso e atenção, principalmente depois do «Este País não é para Velhos», mas eu nunca quero perder esse lado mais humano e arriscado porque é isso que torna a coisa divertida para mim. Não me interessa muito receber um monte de dinheiro para fazer um grande blockbuster. Não sei se teria aceite fazer o primeiro «MIB - Homens de Negro» se me tivessem oferecido um papel como o do Agente K, e digo isto sem pretensões, mas eu não teria razão para fazê-lo. Aceitei este terceiro filme porque senti medo quando o
Barry Sonnenfeld me perguntou se eu queria interpretar um Tommy Lee Jones enquanto jovem. É verdade, o meu estômago até doeu quando me propuseram o «Homens de Negro 3», e no início recusei. Mas depois pensei nisso e achei que o desafio era de tal ordem que aceitei.
O fracasso de «Jonah Hex»
Não tenho vergonha do
«Jonah Hex», a minha intenção era fazer um filme diferente, ao estilo de
«O Pistoleiro do Diabo», muito duro e «cool», como os do
Sergio Leone, e não foi o que aconteceu. O estúdio ficou nervoso, achou que o realizador não era bom, e começou a adicionar todo o tipo de coisas ao filme, e acabou por se criar um efeito de bola de neve de negatividade que matou tudo à volta. Mas acho que o «Jonah Hex» não é tão mau como toda a gente disse, acho que é estupidamente divertido. Mas definitivamente deveria ter sido muito melhor. Na verdade, se algum dia eu tiver dinheiro suficiente, gostaria de fazer a minha versão do «Jonah Hex» só para provar a mim próprio que podia ser feito como eu visionei.
Filmes bons ou papéis bons?
Eu consigo ser muito objetivo quando vejo uma interpretação minha. Não tenho nada aquela coisa do «oh, pareço esquisito, o meu nariz parece enorme…», essa parte de vaidade não me afeta, talvez por já ser ator há muito tempo ou porque já fiz muitos filmes em que achei que estava terrível. Hoje em dia, e passando por cima de «Os Goonies», acho que o primeiro filme meu em que disse «Uau, ainda bem que fiz este filme» foi o
«Flirting with Disaster», do
David O. Russell. Não teve nada a ver com a minha interpretação, é porque o filme é mesmo bom. E eu quero muito estar em bons filmes, prefiro participar em filmes bons que desempenhar uma personagem espetacular. Quando vejo
«O Padrinho», apesar do
Marlon Brando ser excecional, o que interessa é a experiência como um todo, não é um filme de uma personagem só, é todo o filme que impressiona. É a isso que eu aspiro, é a estar em filmes bons, e achei que o «Homens de Negro 3» era diferente.
Os próximos projetos
Já acabei de rodar o
«The Gangster Squad», que é excelente, correu muito bem, o Sean Penn tem uma interpretação excecional. Esse e o «Homens de Negro 3» foram dois filmes de grande orçamento, muito espetaculares, e senti a falta de um certo intimismo, por isso aceitei o
«Labor Day», com a
Kate Winslet e realizado pelo
Jason Reitman, e o «remake» do
«Oldboy», dirigido pelo Spike Lee, que acho que deverá ser certamente o filme mais duro da minha carreira. Eu escrevi um email ao
Park Chan-wook [realizador do «Oldboy» original], que eu adoro e que tentei que fosse o realizador do «Jonah Hex». Eu queria a aprovação dele para fazer o «remake», e ele escreveu-me uma carta linda a dizer que adorava «remakes» e que só não queria que fizéssemos um filme igual ao dele.
Veja aqui as entrevistas do SAPO a
Barry Sonnenfeld e a
Will Smith.
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