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O filme norueguês "Dreams (Sex Love)" foi o grande vencedor do Festival de Berlim. Todd Haynes, o presidente do júri, descreveu o filme realizado pelo norueguês Dag Johan Haugerud como "uma meditação sobre o amor". Foi o ponto alto de uma cerimónia onde se ouviram várias mensagens de alerta para as tribulações políticas dos nossos dias e o papel do cinema em refleti-las.
"Dreams (Sex Love)" é o terceiro vértice de uma trilogia que o cineasta tem dedicado à complexidade das relações humanas, tendo o primeiro, "Sex", estreado na secção Panorama do Festival de Berlim do ano passado, e o segundo "Love", participado em competição no último Festival de Veneza. O filme gira em redor dos escritos da jovem Johanne sobre a sua paixão pela professora de francês, e a tensão e reflexão que esses textos vão provocar no seio da sua família.
Fan Bing Bong entregou o Urso de Prata - Grande Prémio do Juri ao brasileiro Gabriel Mascaro por "O Último Azul", em redor de uma mulher de 77 anos forçada pelo governo a ir viver para uma colónia de idosos mas que embarca numa grande aventura pelo Amazonas.
O Urso de Prata Prémio do Juri foi para "El Mensaje", co-produção entre a Argentina e a Espanha, do venezuelano Iván Fund, em redor de uma menina argentina que consegue comunicar com os animais mas é explorada nesse seu dom. O chinês Huo Meng ganhou o Urso de Prata de Melhor Realização por "Living the Land", sobre as vivências de um menino chinês a observar as mudanças aceleradas da sua aldeia no início dos anos 90.
Nas categorias de interpretação, sem distinção de género, o troféu para papel principal foi para Rose Byrne, por "If I Had Legs I'd Kick You", de Mary Bronstein, sobre as tribulações de uma mulher que tem de lidar com uma série de graves problemas em seu redor. Andrew Scott, que não esteve presente, ganhou o trofeu de Melhor Interpretação Secundária pelo papel de Richard Rodgers no muito elogiado biopic "Blue Moon", sobre Lorenz Hart, realizado por Richard Linklater.
O Urso de Prata para Melhor Argumento foi para "Kontinental '25", do romeno Radu Jude, que em 2021 para conquistou o Urso de Ouro por "Má Sorte ou Porno Acidental" e que fez o discurso mais político da cerimónia: referindo-se às eleições de amanhã na Alemanha e à ascensão da Extrema Direita no país, desejou que a Berlinale do próximo ano não tenha como filme de abertura "O Triunfo da Vontade", a celebração nazi de Leni Riefenstahl.
Entre os 16 documentários a concurso, o prémio principal foi para o norte-americano "Holding Liat", de Brandon Kramer, mas o júri atribuiu duas menções honrosas, para "Canone Effimero", de Gianluca De Serio e Massimiliano De Serio, e para o peruano "La Memoria de las Mariposas", de Tatiana Fuentes Sadowski, com participação da produtora portuguesa Oublaum Filmes, descrito como “uma viagem pessoal através dos arquivos da Amazónia que liga pesquisa e especulação”, no qual a cineasta funde sua própria história com a de duas crianças indígenas levadas à força para a Europa.
O galardão de Superior Contribuição Artística, que premeia um aspecto que o júri quer destacar num determinado filme da competição, foi para "La Tour de Glace", de Lucile Hadžihalilović, pela notável colaboração de linguagem estilística e visual na celebração da linguagem do cinema.
Na secção Perspetivas, dedicada a primeiras obras de longa-metragem, o vencedor foi o mexicano "El Diablo Fuma (y guarda las Cabezas de los Cerillos Quemados en la Misma Caja)", de Ernesto Martínez Bucio. Uma menção especial foi ainda atribuída ao belga "On Vous Croit", de Arnaud Dufeys e Charlotte Devillers.
Na secção de curtas-metragens, o Urso de Ouro foi para o documentário experimental canadiano "Lloyd Wong, Unfinished", de Lesley Loksi Chan, sobre o artista sino-canadiano do título, que deixou por terminar nos anos 90 um filme sobre a sua luta diária com o HIV, que a cineasta Lesley Loksi Chan trabalhou e terminou. O Urso de Ouro - Prémio do Júri foi para o filme de animação japonês "Ordinary Life", de Yoriko Mizushiri, e o Prémio Especial CURA foi para o holandês "Koki, Ciao", de Quentin Muller.
No início da tarde, o festival anunciou ainda os vencedores da secção paralela Panorama, com "Sorda", de Eva Libertad, a arrebatar o troféu de Melhor Filme e "The Möllner Letters", de Martina Priessner, o galardão de melhor documentário.
A 75ª edição do Festival de Cinema de Berlim teve início a 13 de fevereiro, e teve outra participação portuguesa, o filme “Duas Vezes João Liberada”, na nova secção competitiva “Perspetivas”, uma primeira obra da realizadora Paula Tomás Marques, que ficciona a produção de um filme que reflete sobre representação de histórias e de pessoas queer na História e no cinema. A cineasta escreveu o filme com June João, que também protagoniza.
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